10 mandamentos da cultura digital

Naquele tempo, a Joana Rita desafiou-me... e eu dei-lhe os 10 mandamentos da cultura digital. Também podem ser um manifesto, ou uma vontade... seja o que for, é por um digital mais humano.

10 mandamentos da cultura digital

Questionem-se e questionem, não assumam, não vão nas modas. A minha avó costumava dizer "agora usa-se"! So what? Estou a fazer algo que é adequado à minha audiência? E é esta a minha audiência? Ou estou ofuscado e a ir atrás das outras Marias?

Porquê 10 mandamentos?

Naquele tempo, quando a Joana me convidou a participar no #twitterchatpt e me deu carta branca para um tema, surgiu-me esta necessidade de defender a cultura digital, com a criação dos 10 mandamentos da cultura digital, correndo o risco de começar a ser/parecer a minha avó.

Mas, efectivamente, com o crescimento/amadurecimento do “marketing digital”, parece que aquilo que deu base a uma cultura e a uma nova forma de estar ficou para sempre esquecido.

Nota: não tenho nada contra o marketing digital, só me faz confusão que de repente ande tudo em atitudes hard selling, onde só os números importam.

 

Nunca esqueças as raízes

É conhecida a minha raiva contra sites que não fazem links, contra campanhas que ainda mal me deram algo e já me roubaram todos os dados para me segmentarem bem segmentadinho, e muitos etc’s por aí fora.

Sou, desde sempre, pela partilha, pelo link, pela ligação e pela conexão de ideias e pessoas, de forma aberta e livre. Sou pelo orgânico, que me ensina que os frutos vão surgir se a nossa atitude for a correcta. Sou pelo caminho a longo prazo em aversão ao imediato etéreo.

Estão a ver? Começo ou não a parecer a minha avó? Mas calma, não vou dizer que dantes é que era bom. O dantes é um caminho perigoso e cheio de armadilhas.

Novos canais e formatos, para falar com pessoas

Sou pelo novo, pela inovação, pelas novas formas de fazer, pelos novos canais e formatos e acima de tudo, sou pela relação e pela experiência que proporcionamos.

E é aqui que é tão bom fazer digital. Até porque agora atingimos sonhos antigos, o de conseguirmos falar com cada um dos nossos clientes/fãs/seguidores, como nunca antes se conseguiu. O de estar com eles sempre que é preciso, o de entregarmos sempre que ele pede. Falarmos pelo canal que ele prefere.

E sim, estamos a falar com pessoas, que têm um nome, uma vida, desejos e necessidades. E tal como nós, não gostam de ser mal tratados ou sentirem-se mais um: número, like, reach, percentagem.

Por isso sinto esta necessidade de defender a cultura digital com estes 10 mandamentos, em oposição à atitude de megafone e de vendedor de feira que vamos encontrando por aí.

O meio é novo, mas se não percebermos a sua cultura, vamos continuar a usar os velhos métodos. E isso não é compreender o potencial que temos nas mãos.

 

Mandamentos ou manifesto?

Mandamentos, porque a minha educação religiosa me persegue; manifesto, porque não mando em ninguém. Mas como o ponto de partida foram os bons princípios morais dos 10 mandamentos, aqui fica a adaptação à cultura digital:

Vejo muitas marcas com urgência em chegarem lá, não percebendo que só lá chegam enquanto atirarem dinheiro para dentro da máquina e que, no momento em que param, desaparece tudo.

Trabalhar a nossa presença de forma consistente, criando relações, criando conteúdos, dando motivos de visita e de partilha, é um crescimento sustentado no tempo. As campanhas vão ajudar a crescer, mas temos a certeza de que as fundações estão lá para dar suporte e escalar.

Felizmente já vejo muitas outras a entenderem o novo espaço de comunicação e a fazerem tudo isto de forma exemplar. Vejam a Control Portugal e  seu trabalho no Instagram, por exemplo.

Onde ficou a velha máxima do não faças aos outros? Parece que se perderam os bons modos e o bom senso e que agora vale tudo. Lamento mas não vale e nós, enquanto utilizadores, ainda temos muitas formas de rejeitar os abusos.

Unfollow, Delete, Unsubscribe, Spam… #younameit mas rejeita a tua numerificação

E a partilha. Tenho tantas saudades das partilhas abertas e sem condições ou restrições. Sinto falta de conseguir ler um artigo sem que as partilhas estejam todos linkadas a mais publicidade. De ver alguém a partilhar conteúdos de outros sem medo de perder um leitor.

É pena que a irritação não apareça no analytics, dava muito jeito. Porque sendo invisível, não dá sinais de alerta.

 

Cultura digital vende menos?

Não, não vende menos, vai é vender mais, porque vai vender de forma orgânica, estruturada, agradável. Melhor dizendo, não vai vender. O cliente é que vai comprar. E isso é uma grande diferença.

Cultura digital e marketing digital são incompatíveis? Longe disso. Devem ser usadas em convergência. Lembram-se do conceito de transmedia? Voltem a ler sobre isso sff e vão ver que não devem existir barricadas mas antes belas pontes.

Regressem ao Cluetrain Manifesto:

1. Markets are conversations.
2. Markets consist of human beings, not demographic sectors.
3. Conversations among human beings sound human. They are conducted in a human voice.

and so on

Perguntem-se muitas vezes, pelos menos umas 5… se eu fosse o alvo desta acção, como me iria sentir?

Questionem-se e questionem, não assumam, não vão nas modas. A minha avó costumava dizer “agora usa-se”! So what? Estou a fazer algo que é adequado à minha audiência? E é esta a minha audiência? Ou estou ofuscado e a ir atrás das outras Marias?

Participo nas conversas conversando e partilhando? Ou sou uma ratoeira na eminência de caçar mais um incauto?

Estou a ser humano no digital tal como sou humano na vida real? É isso que importa e faz a diferença.

 

Think tanks

Para não pensarem que somos meia dúzia a defender um digital mais humano e menos algoritmo e máquina (mesmo sabendo que daí podem vir coisas muito interessantes e úteis), deixo dois eventos onde vale a pena ir e participar, ou seguir à distância, o TechFestival em Copenhaga, e a IAM, em Barcelona.

Para fechar

A fechar, deixo-vos um poster que resolvemos desenhar com os mandamentos, para quem quiser imprimir, partilhar, colar na parede, o que for. É só clicar aqui, #NoStringsAttached.

A conversa completa daquela manhã do dia 22 de Agosto de 2019, no #twitterchatpt, está toda aqui, em modo twitter moments.

E agora? Agora deixo o desafio para praticarem um digital mais humano e qualquer coisa ando aqui perto para podermos trocar umas ideias sobre o assunto (frase roubada ao título de um bom livro). 😉

 

Quem é o Jorge?

O Jorge Oliveira é Chief Enthusiastic Officer & Founder na ActiveMedia. Gosta de jazz e de livros. Está sempre a inventar. Às vezes parece a minha avó a falar.