como não ser um totó nas redes sociais

ficam alguns baby steps: quem partilhou a notícia? achas que a pessoa verificou a notícia? pesquisa noutros órgãos de comunicação social para ver se há mais alguém a falar do assunto. verifica essas fontes. notícias de sites como “tafixe.xyz” podem ser um sinal de notícia duvidosa. Se a fonte for o Inimigo Público – sim, é falsa e o mais certo é que te provoque o riso.  em caso de dúvidas, não partilhes. nem mesmo com a ressalva “não sei se é verdade, mas se for é motivo para...”. pára. não estarás a ajudar.

o acesso constante que temos às redes sociais e os botões que as mesmas disponibilizam e que gritam “PARTILHA” facilitam, e muito, o acto de partilhar sem pensar. é tudo muito rápido, like aqui, like ali. share, já está. 

algures em Março de 2017, no meio de uma conversa via Twitter, eu e o Pedro Rebelo chegámos a uma conclusão: 

 

este tweet passou imediatamente a header, no meu perfil no Twitter. é uma frase que descreve a postura de muitas pessoas nas redes sociais: ver uma notícia, ler apenas o headline e imediatamente partilhar.

desta forma, o Vasco Granja falece, ano após ano, partilha após partilha, sem que alguém se dê ao trabalho de clicar no link e verificar a fonte e a data da notícia. só para que conste, Vasco Granja faleceu em 2009. ah, e o Bonga está bem e a vender saúde, ainda que no Twitter a sua morte também seja anunciada de quando em vez com #RIPBonga. 

 

diz não às pêras estragadas 

recordo-me de uma publicação partilhada no facebook sobre uma quinta onde havia pêra rocha por apanhar e que não poderia ser vendida por causa do calibre. quem tivesse interesse poderia deslocar-se à Quinta X para apanhar a pêra em questão. bonito gesto, o dos senhores que, vendo que não seria possível vender a fruta, estavam disponíveis a dar a quem a fosse apanhar. 

a partilha é que chega tarde: a publicação inicial data de Setembro de 2013 e as partilhas que vi aconteceram em Setembro de 2018. numa das partilhas confesso que não resisti e comentei qualquer coisa como “as pêras já se devem ter estragado”. 

uma das questões que me incomoda relaciona-se com as pessoas que fazem este tipo de partilhas: conheço algumas dessas pessoas e confesso que esperava um pouco mais de cuidado e de atenção nas partilhas. 

 

como não ser um totó nas redes sociais 1

Karsten Winegeart / Unsplash

 

partilhar ou não partilhar nas redes sociais?

pensar antes de partilhar pode dar um pouco de trabalho e fazer-nos demorar um pouco no assunto em questão: mas, acreditem, vale a pena. a nossa reputação constrói-se, também, pela qualidade daquilo que partilhamos. 

não defendo que toda a partilha deva ser necessariamente estratégica, no que respeita a perfis pessoais. ainda assim, fica o aviso: as partilhas públicas que fazemos numa rede social são públicas e estão acessíveis a todos, não somente aos nossos amigos. nada como investir algum tempo nas definições de privacidade e perceber quem pode ver o quê, no teu perfil pessoal.

 

parar para pensar – um guia prático

nem tudo aquilo que encontramos nesse mundo enorme a que chamamos internet é verdade. nem tudo é mentira. há um pouco de tudo e daí a sua semelhança com a vida. cabe-nos a nós contribuir para que as mentiras não se propaguem. 

sim, é fácil acreditar que a notícia X é verdadeira pois já a vimos partilhada em vários sítios. ainda assim, nada como abrir o link, verificar a fonte e a data. além disso, podemos sempre verificar se há mais notícias sobre o assunto – e em que fontes encontramos isso. 

 

os pilares da ponte

em meados de Agosto de 2018 aconteceu um acidente horrível numa ponte, em Itália. os pilares cederam e a tragédia aconteceu. levantaram-se questões sobre as infra-estruturas, em Itália e também em Portugal. 

na sequência disso voltou a circular a famosa fotografia dos pilares do viaduto Duarte Pacheco. digo famosa pois já não é a primeira vez que a fotografia circula nas redes sociais. até já houve notícias a explicar o aspecto dos pilares.

como não ser um totó nas redes sociais 2

 

é fácil partilhar: vemos a imagem dos pilares, pensamos na tragédia que está fresca na nossa memória e “toma lá disto que amanhã já não há”: passamos a ser os pilares que sustentam a circulação das notícias falsas, pois não nos demos ao trabalho de pensar antes de partilhar. 

 

outro clássico: o Movimento Pijaminha 

durante alguns anos circulava um e-mail (lembram-se daquele tempo em que havia correntes de e-mails com apelos e afins?) com pedidos de pijamas para a pediatria do IPO (Instituto Português de Oncologia) de Lisboa. Confesso que à primeira, caí na armadilha. até considerei angariar fundos para comprar pijamas e/ou pedir a amigos pijamas em bom estado para doar. 

como os deuses não dormem, acabei por entrar em contacto com uma associação próxima ao IPO de Lisboa que me confirmou que o e-mail é falso. e mais: não há apelo e que o que mais se pretende na pediatria do IPO é que as crianças tenham rotinas comuns a todas as crianças e por isso não se estimula a que passem o dia de pijama.

 

[nas redes sociais] primeiro que tudo, pensar e verificar 

o acesso constante que temos às redes sociais e os botões que as mesmas disponibilizam e que gritam “PARTILHA” facilitam, e muito, o acto de partilhar sem pensar. é tudo muito rápido, like aqui, like ali. share, já está. 

“Que horror, tenho de partilhar isto.” 

“O mundo precisa de saber!”

 

não, não o mundo não precisa de saber. bom, o mundo precisa de saber coisas que realmente aconteceram ou que estão a acontecer. o mundo precisa que eu, tu e ele – nós! – pensemos um pouco antes de fazer uma partilha.

ficam alguns baby steps:

  1. quem partilhou a notícia? achas que a pessoa verificou a notícia?
  2. pesquisa noutros órgãos de comunicação social para ver se há mais alguém a falar do assunto. verifica essas fontes.
  3. notícias de sites como “tafixe.xyz” podem ser um sinal de notícia duvidosa. Se a fonte for o Inimigo Público – sim, é falsa e o mais certo é que te provoque o riso. 
  4. em caso de dúvidas, não partilhes. nem mesmo com a ressalva “não sei se é verdade, mas se for é motivo para…”. pára. não estarás a ajudar.

 

não sejas um real dummy. vá, tu és capaz!

(artigo redigido em setembro de 2018 para o shifter)

📷 de destaque: Brian McGowanUnsplash