ser Jurema

o que fazer? é fácil ceder à vontade de começar a disparar, pois tu até nem gostas muito da pessoa X ou “ah pois, aquele ali? nunca me enganou!” e de repente já estás a repetir frases feitas sobre a pessoa ou o acontecimento, sem saber a fundo o que motivou a “guerra”. 

a Jurema e o Bill são os protagonistas de memes muito famosos na internet. a ideia principal é “a Jurema viu uma publicação na internet da qual não gostou e passou à frente, sem puxar o saco de ninguém.” o mesmo texto pode ser encontrado na internet com o Bill como personagem.

“não é que está toda a gente a falar disto?”

chegas ao café ou à tua rede social preferida e percebes que há um tema “quente” do qual todos falam. esforças-te por ler ou ouvir para perceber do que ou de quem se fala. neste processo é comum perceber que há lados da barricada: uns são contra, outros são a favor. pelo meio vão apelando a que tu também sejas contra ou a favor.

o que fazer? é fácil ceder à vontade de começar a disparar, pois tu até nem gostas muito da pessoa X ou “ah pois, aquele ali? nunca me enganou!” e de repente já estás a repetir frases feitas sobre a pessoa ou o acontecimento, sem saber a fundo o que motivou a “guerra”.

e se alguém te perguntar o que motivou, nem sabes explicar bem. “ouviste dizer” ou “leste fulano e sicrano”.

 

meme da jurema

 

aprende a ser como a Jurema. ou como o Bill.

a Jurema e o Bill são os protagonistas de memes muito famosos na internet. a ideia principal é “a Jurema viu uma publicação na internet da qual não gostou e passou à frente, sem puxar o saco de ninguém.” o mesmo texto pode ser encontrado na internet com o Bill como personagem.

ver uma publicação da qual não se gosta, na internet, é comum. ver uma publicação de alguém que não estimamos, também é comum. o mesmo vale para as pessoas que admiramos.

a pergunta que faço é: temos de nos posicionar sobre tudo aquilo que vemos?

a minha resposta é: não. passo a justificar o porquê desta minha resposta.

 

ser Jurema 1

 

a Jurema sabe que comentar com propriedade exige tempo

defendo que se é para comentar e para te envolveres na indignação do dia, que seja com propriedade. assim, se te passar na timeline um vídeo ou um excerto de um texto que indicia que há um vídeo ou um texto maiores do que aquele pedaço, convém que não fiques só por aquele excerto.

isso vai consumir algum tempo, é certo. deverás ir ver a fonte do vídeo ou texto, averiguar o contexto, verificar também onde está publicado (um blog? um órgão de comunicação social? quem assina?).

depois de ver o todo do qual recebeste uma parte, verifica se não há ali nenhum termo ou expressão específicos que mereçam alguma atenção e estudo de sentido.

até agora estás a viver aquilo a que os gregos chamam epoché, a suspensão do juízo. Ou seja, ainda não estás a pronunciar-te sobre aquilo que o autor diz.

há que identificar qual é a ideia do autor, o que está a defender, bem como os argumentos para defender essa ideia. nem sempre encontras um “eu defendo isto e isto”, tens mesmo de ler e fazer essa identificação com clareza.

 

ser Jurema 2

 

a Jurema pergunta: o que tenho eu a dizer sobre isto?

como é que te posicionas perante o autor? tens noção dos seus argumentos? são argumentos válidos? e a tua posição sobre o assunto é igual ou diferente daquela que é defendida pelo autor?

poderás ter verdadeiras surpresas: descobrir que afinal o autor não está a dizer o que todos os outros estão a dizer que diz ou que o autor está rotulado como sendo “X” e afinal defende posições que associas a “Y”.

também tu poderás descobrir que, ainda que não sejas fã daquele autor (ou autora), naquele ponto em particular até concordas com o que diz ou com o que escreve.

 

a Jurema resume os passos a dar: 

– pesquisar contexto;

– suspender o juízo;

– investigar termos e ideias;

– identificar claramente as ideias e os argumentos;

– apreciar esses argumentos;

– posicionar-se perante a ideia do autor, esclarecendo as razões para o fazer.

 

ser Jurema 3

 

uma canseira, não é? nem que seja só por isto, pelo consumo de tempo e de energia, sê como a Jurema. escolhe sabiamente as “batalhas” e os temas pelos quais queres ir à luta, ao invés de ir atrás da “manada”. Jurema é uma pensadora independente e sabe que isso é uma prática diária.

 

[uma nota: Juremar tornou-se um verbo desde que comecei a frequentar um curso de pensamento crítico orientado pelo colectivo Isto Não É Filosofia – Vitor e Evelyn Lima, cujo trabalho recomendo e convido a conhecer no youtube]

📷  Oleg MagniUnsplash