o brainstorming, o brainwriting e o journaling entram num bar
combinar o hábito do journaling com um treino consciente do pensamento crítico e da metacognição revela-se uma ferramenta muito poderosa no sentido de nos tornarmos pessoas pensadoras independentes.
a par do brainwriting que Adam propõe, gostaria de sublinhar ainda o papel fundamental do journaling no âmbito da prática do pensamento crítico e criativo.
brainwriting em vez de brainstorming
Adam Grant escreveu recentemente no twitter:
When groups meet to brainstorm, good ideas are lost. People bite their tongues due to conformity pressure, noise, and ego threat.
A better approach is brainwriting: generate ideas separately, then meet to assess and refine.
Group wisdom begins with individual creativity. pic.twitter.com/02Z3okOfu7
— Adam Grant (@AdamMGrant) August 29, 2022
o brainstorming é um pouco como as reuniões: regra geral, pensamos que basta juntar as pessoas para que as coisas acontecem. como assinala o Pedro Vieira no linkedin, o brainstorming é amplamente usado sem qualquer estrutura e sem saber muito bem o que estamos ali todos a fazer, sentados numa mesa, em círculo, com post-it coloridos na mão.
nas minhas oficinas de filosofia ou nos cafés filosóficos convido muitas vezes as pessoas a, num momento inicial, escrever uma ideia, uma resposta, uma pergunta ou um comentário, de forma individual, para depois a partir daí trabalharmos de forma colaborativa.
também nos diálogos filosóficos é comum o convite a pensar numa pergunta individualmente e só depois partilhar com o grupo. evita-se a pressão de pensar alinhada com as pessoas com quem habitualmente concordamos, por exemplo. há espaço para o verdadeiro exercício de criatividade (ou chapéu verde) – isto se o objectivo for esse mesmo, o de criar ideias novas sobre algo.
no zoom, a funcionalidade do chat permite este exercício: cada pessoa escreve uma ideia no chat (em modo privado, apenas para a pessoa anfitriã) e depois partilhamos com o grupo. presencialmente, os post- it funcionam muito bem para recolha de ideias e podem facilmente fixar-se numa parede ou quadro.
há outra vantagem neste processo que vai ao encontro da ideia de brainwriting defendida por Adam Grant: permite que haja um momento deliberado para pensar em silêncio.
o silêncio pode ser um grande incómodo para muitos, porém advogo que é um abismo com o qual temos de nos confrontar, para dar tempo e para respeitar o ritmo de pensamento de cada pessoa envolvida.
o journaling como ferramenta para mapear o pensamento
a par do brainwriting que Adam propõe, gostaria de sublinhar ainda o papel fundamental do journaling no âmbito da prática do pensamento crítico e criativo.
por journaling entendo:
(…) uma técnica de escrita diária, que tem como objetivo registar experiências e trabalhar as dificuldades pessoais de cada um, sendo um ponto de crescimento pessoal, e não só um típico diário de registo casual. (Visão)
para Cláudia Ganhão, há vários benefícios na prática do journaling, nomeadamente:
Redução do Stress e da Ansiedade
Clareza de pensamentos e sentimentos
Encontrar soluções para problemas e conflitos
Aumenta a criatividade
Exercita a memória
Aumenta o vocabulário
Auto-conhecimento
Auto-estima
Organização mental
um benefício que gostaria de assinalar é a possibilidade de observarmos o movimento do nosso pensamento. um exemplo disso é a proposta do diário de perguntas.
um dos exercícios que proponho várias vezes às pessoas com quem me cruzo na formação, sejam pessoas miúdas ou mais graúdas, passa por ter um diário de perguntas. este pode ser um caderno ou um bloco de folhas. não é importante o formato, o importante é o hábito de perguntar e de as escrevermos, para não nos esquecermos delas.
a ideia é que o nosso diário de perguntas vá crescendo, pergunta a pergunta. diariamente, registamos uma pergunta no diário, uma pergunta por página. no final de 30 dias, continuamos a registar uma pergunta por página e voltamos à pergunta #1 para arriscar uma resposta ou reformular a pergunta ou reflectir sobre a própria pergunta.
outro exemplo passa por escolher um artigo ou um livro e fazer o exercício que proponho no #LERePENSARcom: escolher uma citação, reflectir sobre a citação e fazer uma pergunta.
pensamento crítico: pensar o pensamento
na sequência dos benefícios assinalados pela Cláudia Ganhão, gostaria de destacar aqueles que têm uma ligação directa com o pensamento crítico: a clareza de pensamentos, o exercício da memória, a prática da criatividade, a procura de soluções e a organização mental.
o journaling permite uma espécie de fotografia do nosso pensamento: no dia X eu escrevo sobre a situação Y (o que senti, como lidei, o que fiz para resolver, as perguntas que a situação me trouxe…). ora, no dia seguinte posso voltar a pegar no que escrevi e voltar a pensar o mesmo e também pensar sobre os meus processos de pensamento. será que aqui estou a dar um exemplo? será que aqui estou a estabelecer cenários futuros? será que aqui estou a argumentar a favor de algo? será que estou a fazer uso de alguma falácia?
combinar o hábito do journaling com um treino consciente do pensamento crítico e da metacognição (“Pensar sobre a maneira pela qual pensamos em várias situações pode ajudar em avanços e progressos do pensamento crítico, científico e interdisciplinar, levando estudantes ao aprender a aprender.”) revela-se uma ferramenta muito poderosa no sentido de nos tornarmos pessoas pensadoras independentes.
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neste artigo partimos da ideia de brainwriting para mergulhar nos benefícios do journaling e, finalmente, na relação deste com a escrita e o registo nos processos de pensamento e de metacognição.
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para aprofundar as temáticas:
Journaling: Identification of challenges and reflection on strategies
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imagem de destaque: 📷 Thought Catalog / Unsplash